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Revista Saúde

Histórias inspiradoras de mulheres na luta contra o câncer de mama

Relatos mostram a importância do diagnóstico precoce da doença e reafirmam a importância do apoio da família e de organizações sociais

Por Isabella Holouka

09 de novembro de 2020, às 08h39

Foi em um autoexame de rotina que Valéria Aparecida Costa Dalcinco, de 42 anos, moradora de Santa Bárbara d’Oeste, descobriu o câncer de mama em 2017.

“Nesse dia senti um ‘carocinho’. Pensei que era hormonal, mas três dias depois ele ainda estava lá. Comentei com uma amiga, que me recomendou ir ao postinho”, lembra.

Mamografia, ultrassom, biópsia, encaminhamento à divisão de oncologia do CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

“Eu descobri o caroço em abril. Em junho ele estava do tamanho de uma bola de tênis e em julho o bico estava todo para dentro e a mama enrugada. Mesmo assim, eu achava que fosse outra coisa”, relata Valéria.

Jane voltou a estudar e tem se dedicado ao curso técnico em enfermagem – Foto: Marcelo Rocha – O Liberal

Jane Mara Lopes Ribeiro, de 48 anos, moradora de Santa Bárbara, conta que a confirmação do câncer há três anos foi pouco tempo depois da tão sonhada colocação de prótese nas mamas.

“Ter medo é normal porque uma coisa nova está acontecendo na sua vida e você não sabe o que vem pela frente. Mas você tem que continuar com a cabeça erguida, com fé e com esperança”

Jane Mara Lopes Ribeiro, sobre o desafio da luta contra a doença

“Minha mama ficou muito dolorida, no banho eu colocava a mão porque doía. E o tumor que iniciou próximo ao pescoço desceu, ficou bem próximo da aréola, um caroço duro”, lembra ela, que acompanhou os sintomas por cerca de três anos até procurar a avaliação médica.

Quando uma amiga a alertou sobre a aparência da mama, ela resolveu buscar o Hospital de Amor em Fernandópolis, onde realizou mamografia e ultrassom, descobrindo um câncer avançado.

Maria Helena se dedica a descobrir onde há exames gratuitos para motivar outras mulheres – Foto: Marcelo Rocha – O Liberal

Já Maria Helena de Oliveira, de 66 anos, que também reside em Santa Bárbara, confirmou a doença há dois anos através da carreta do Hospital de Amor, promovida em Americana pelo Instituto Rosa do Bem.

“Eu havia feito uma mamografia e o doutor disse que havia uma manchinha, não precisava me preocupar, mas eu fiquei com isso na cabeça. Um dia vi a Igreja Matriz de Santo Antônio lotada, estavam marcando o exame de mamografia. Fiz novamente e descobri que estava com câncer”, conta ela, que foi encaminhada ao Hospital de Amor em Campinas, e posteriormente à unidade de Barretos. 

“Eu não tinha apego, mas hoje eu quero me cuidar, quero orientar as pessoas a fazerem exame da mama. Procuro me informar sobre os exames gratuitos e avisar as mulheres para irem, porque eu sei que é uma coisa séria”

Maria Helena de Oliveira, sobre a necessidade do diagnóstico precoce

Cerca de 4 meses se passaram entre a descoberta do câncer e a cirurgia de Maria, que não precisou tirar a mama completa, nem passar por quimioterapia e radioterapia. Em compensação, teve uma trombose em resposta aos medicamentos de tratamento, mas afirma estar muito bem e aliviada, “graças a Deus”.

“Eu perdi a minha mãe com câncer, porque ela não teve essa cobertura. Ela teve na mama e foi para a bexiga, pegou o rim, e estava evoluído demais quando descobrimos. Ela faleceu há 32 anos, na época ninguém orientava a gente para fazer exame ou acompanhar”, conta.

A importância do apoio. Depois do diagnóstico, descrito pelas pacientes de câncer de mama como um “baque”, vem a luta. Além do incentivo de uma amiga para buscar ajuda médica, Valéria relata a importância do apoio familiar, especialmente da mãe e do irmão, do marido, do filho e da sogra, durante todo o tratamento. “Tem coisas que não tem preço, como estar com a família. Hoje estamos aqui, mas amanhã podemos não estar. Então estar junto foi prazeroso e importante, nos unimos mais”, lembra ela.

Mesmo com o apoio dos familiares, tanto Valéria quanto Jane e Maria relatam momentos de insegurança e medo em que a Rede Feminina de Combate ao Câncer de Santa Bárbara d’Oeste e o Instituto Rosa do Bem, de Americana, foram essenciais.

“Muitas pessoas têm uma jornada muito longa até entrar no tratamento. Precisam do apoio da família, dos amigos e de uma instituição. Depois, a reabilitação é uma nova trajetória. Elas ficam vinculadas e servem de espelho para aquelas que estão começando”, explica a Superintendente de Administração Geral da Rede Feminina, Carla Eliana Bueno.

Com uma história de mais de quatro décadas, a Rede Feminina presta atendimento e assessoramento a pessoas portadoras de câncer, de todos os tipos, seus cuidadores e familiares, promovendo acesso aos direitos, bem-estar e qualidade de vida.

“Quando falamos em prevenção, pedimos para que as famílias olhem pelas mulheres dentro de casa, que elas olhem para si mesmas também”, afirma Maria Fernanda Grecco Meneghel, fundadora do Instituto Rosa do Bem, que teve início em 2011, em Americana. Segundo Maria Fernanda, o grupo começou com a proposta de conscientização, tendo em vista a campanha Outubro Rosa, e cresceu com a promoção de mamografias gratuitas em Americana e o acompanhamento das mulheres diagnosticadas com câncer até o final dos tratamentos, dentre diversas ações promovendo a prevenção. 

Nova maneira de encarar a vida

Valéria continua em tratamento com medicamentos até 2022; ela se dedica ao crochê e voltou a dirigir – Foto: Marcelo Rocha – O Liberal

“Tem hora que eu nem lembro que fiquei doente. Estou fazendo meus crochês, que tem me dado muita satisfação. Pego uma ou outra encomenda, e sei que consigo e sei fazer as coisas. Estou até dirigindo carro, que eu fiquei mais de 15 anos sem conseguir”, comemora Valéria, que depois de cirurgia, quimioterapia e radioterapia, termina em 2022 o tratamento com medicamentos.

“Lógico que tinha dias que eu achava que não ia suportar, mas eu me apeguei mais ainda com Deus”, lembra Jane. “Ter medo é normal porque uma coisa nova está acontecendo na sua vida e você não sabe o que vem pela frente. Mas você tem que continuar com a cabeça erguida, com fé e com esperança”, afirma ela, que conclui a medicação em 2025, após quimioterapia, cirurgia de emergência e radioterapia.

Além de ter voltado ao trabalho em um consultório de dermatologia, Jane voltou a estudar e tem se dedicado ao curso técnico em enfermagem. “Nunca é tarde para fazer algo que você queira”, defende.

“Tem coisas que não têm preço, como estar com a família. Hoje estamos aqui, mas amanhã podemos não estar. Então estar junto foi prazeroso e importante, nos unimos mais”

Valéria Aparecida Costa Dalcinco, sobre a importância do apoio familiar

Ao invés de roupas, joias e sapatos, ela conta ter passado a dar mais valor à vida e pequenos prazeres, como se alimentar, por mais simples que pareça.

“Eu não tinha apego, mas hoje eu quero me cuidar, quero orientar as pessoas a fazerem exame da mama”, acrescenta Maria, cujo tratamento contra o câncer termina em 2023. “Procuro me informar sobre os exames gratuitos e avisar as mulheres para irem, porque eu sei que é uma coisa séria”, conclui.

Uma vida saudável é a melhor prevenção

Estimativas do Inca apontam que o País deve registrar 66.280 novos casos de câncer de mama para cada ano – Foto: Adobe Stock

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, invadindo tecidos e órgãos. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas, determinando a formação de tumores, que podem espalhar-se para outras regiões do corpo.

Estimativas do Inca (Instituto Nacional de Câncer) apontam que o País deve registrar 66.280 novos casos de câncer de mama para cada ano do triênio 2020-2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de 61,61 casos novos a cada 100 mil mulheres.

O tratamento depende da fase em que a doença se encontra. As mortes chegam a 17.763, sendo 17.572 mulheres e 189 homens, segundo o Atlas de Mortalidade por Câncer, de 2018. Além da herança genética, Ramon Andrade de Mello, médico oncologista e professor da disciplina de oncologia clínica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), alerta para outros fatores que aumentam os riscos de câncer de mama, como o uso de hormônios, a obesidade, o tabagismo e o alcoolismo.

“A recomendação é buscar a vida saudável, com atividades físicas periódicas e alimentação adequada”, resume. A prática da amamentação é também um fator protetor e deve ser socialmente estimulada, segundo a sanitarista da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede do Inca, Monica de Assis.

“O Outubro Rosa foi criado nos Estados Unidos, por uma organização não governamental, e foi ganhando adesão mundial como momento de conscientização sobre o câncer de mama, especialmente sobre a importância da detecção precoce da doença e formas de prevenção”, lembra Monica.

O Novembro Azul se inspirou na experiência do Outubro Rosa e nasceu com o objetivo de conscientizar os homens sobre o rastreamento do câncer de próstata com o PSA e o toque retal. Entretanto, esse rastreamento não é recomendado pelo Inca.

“A participação do INCA/Ministério da Saúde nessa campanha tem sido de aproveitar o momento para falar da saúde do homem de forma mais ampla e da prevenção de outros cânceres mais prevalentes na população masculina”, conclui.

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