Covid-19
Em Americana, faixa de 19 a 30 anos liderou casos de Covid em novembro
Levantamento do LIBERAL mostra mudança no perfil de infectados; é a primeira vez que mais novos somam mais casos
Por João Colosalle / André Rossi
05 de dezembro de 2020, às 08h27 • Última atualização em 05 de dezembro de 2020, às 08h36
Link da matéria: https://dev.liberal.com.br/cidades/americana/em-americana-faixa-de-19-a-30-anos-liderou-casos-de-covid-em-novembro-1380306/
A faixa etária entre 19 e 30 anos liderou o número de notificações de casos de coronavírus (Covid-19), em Americana, dentro do mês novembro. É a primeira vez que isso ocorre desde o início da pandemia.
Até então, a faixa entre 31 e 40 anos era quem concentrava as infecções dentro dos meses. A virada ocorreu entre outubro e novembro, o que evidencia a tese de um retorno das contaminações entre os mais jovens.

O levantamento e a divisão entre faixas etárias foram feitos pelo LIBERAL com base em 6.887 casos positivos reportados no boletim divulgado pela Prefeitura de Americana na última quinta-feira.
Os dados são referentes a pessoas que tiveram o coronavírus, se recuperaram, morreram ou ainda estão com o vírus. A proporção entre os casos por faixa etária foi calculada dentro de cada mês.
Desde o início do aumento expressivo de casos, em abril, as infecções eram registradas em pacientes com idades entre 31 e 40 anos e entre 41 e 50 anos. O cenário permaneceu até o mês de setembro.
Em outubro, as faixas entre 19 e 30 anos e entre 31 e 40 tiveram a mesma proporção de casos no total de notificações contabilizadas dentro do mês – cada uma das faixas respondia por 24%.
Já em novembro, houve a mudança. A faixa mais nova passou a contabilizar 28% dos casos, enquanto a de 31 a 40 subiu para 25%.
Ao mesmo tempo em que houve o crescimento nas faixas mais novas, houve redução nas mais velhas. A proporção de casos entre pessoas com 51 a 60 caiu de 20% em junho para 11% em novembro.
A média de idade dos infectados dentro das notificações de cada mês também teve queda. Caiu de 43 em setembro para 40 em outubro e novembro – foi a maior queda na média de idade desde a explosão dos casos, entre maio e junho.
A ocorrência da Covid-19, considerando o total de casos registrados na cidade, ainda é maior entre pessoas de 31 a 40 anos. Das quase 7 mil notificações, 1.672 (24%) são nesta faixa etária.
Segundo a médica infectologista Ártemis Kílaris, que atua no Hospital Unimed em Americana, o cenário é reflexo da flexibilização das atividades econômicas e, por consequência, de eventos com participação de jovens, tanto em festas particulares quanto em bares.
“A gente vê que eles não estão usando máscara, não estão tendo nenhum cuidado com relação ao distanciamento. Esse hábito deixou de existir já faz algum tempo. Em torno de 40 dias que a gente tem visto que essa medida está sendo bem relaxada perante os jovens”, afirmou Ártemis.
A infectologista diz que a maior parte dos contaminados nessa faixa etária apresenta sintomas leves ou são assintomáticos. O maior problema está no risco deles levarem a Covid-19 para dentro de casa, o que pode contaminar familiares mais velhos, como pais e avós.
“As pessoas que estão tendo os quadros mais graves e estão sendo internadas são pessoas mais velhas. Quando você vai tirar a história, na verdade, sempre tem um caso de jovem, de filho, de neto, que levou para dentro de casa a Covid. Na prática é o que a gente está vendo mesmo e era o grande temor”, comentou Ártemis.
Avanço
Depois de três meses consecutivos de redução no número de infectados pelo coronavírus, Americana viu crescer as contaminações em novembro. O aumento foi notado em outras regiões do Estado, o que fez com o que o governo anunciasse um recuo na flexibilização do Plano SP, de combate à pandemia.
Americana registrou até o final do mês passado 6.847 casos positivos. Segundo os dados mais atualizados, foram ao menos 584 notificações de pacientes com a doença em novembro. Em outubro, haviam sido 533.
Diante do crescimento da doença na cidade, o infectologista do HM (Hospital Municipal) Arnaldo Gouveia, membro do Comitê de Crise de combate à Covid-19, recomenda que os moradores não se reúnam presencialmente durante as festas de fim de ano. A preocupação, novamente, é com a saúde dos mais velhos.
“Infelizmente, aquela festa de fim de ano com o nono e nona acabou. Vai ter que ser pela internet. Não vai dar para encontrar os avós. Enquanto não tiver a vacina eficaz ou a imunidade de rebanho atingida, o que não vai chegar tão já, é isso que vai ocorrer”, avaliou Arnaldo.
“Não vá visitar seus avós. Os sintomas [em jovens] são mais leves. Muitos não tem sintoma nenhum e estão transmitindo. Essa é uma história que eu tenho visto bastante. Façam chamada de vídeo. É triste, mas mais triste ainda é se eles adoecerem. Se seu vovô ou vovó adoecer, o risco deles é muito grande de morrer”, afirmou o médico.