Região
Ataque em escola de SP reacende discussão sobre eficácia das câmeras de segurança
Escolas estaduais são equipadas com dispositivos e unidades municipais de Americana também serão em breve
Por Ana Carolina Leal
30 de março de 2023, às 07h26 • Última atualização em 30 de março de 2023, às 10h19
Link da matéria: https://dev.liberal.com.br/cidades/regiao/ataque-em-escola-de-sp-reacende-discussao-sobre-eficacia-das-cameras-de-seguranca-1932047/
O ataque na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, na manhã da última segunda-feira, foi filmado pelas câmeras de segurança instaladas em alguns pontos da unidade. O crime, cometido por um aluno de 13 anos, provocou a morte de uma professora de 71 anos e deixou outras quatro pessoas feridas.
O caso reacende discussões sobre a eficácia da presença de câmeras nas escolas, uma vez que os equipamentos em nada ajudaram a evitar o crime. Especialistas ouvidos pelo LIBERAL não consideram câmeras preventivas. Ao contrário. Eles defendem um trabalho voltado para a qualidade das relações e formação continuada dos professores, em que os princípios democráticos, éticos e de colaboração, sejam vivenciados.
Na Diretoria de Ensino de Americana, que engloba também as escolas de Santa Bárbara d’Oeste e Nova Odessa, as 80 unidades de ensino têm câmeras de segurança nos espaços externo e interno, que cobrem as áreas comuns, administrativas e salas. O monitoramento é espelhado junto ao COI (Centro de Operações Integradas) da PM (Polícia Militar).

Em nota, a PM informou que as câmeras foram instaladas onde há maior circulação de pessoas, o que possibilita observar a conduta dos alunos e detectar algum delito como furto, danos e depredação. “O fato ocorrido na última segunda tem caráter único, isolado e de motivação pessoal. Mesmo assim, com certeza, as câmeras auxiliam na prevenção.”
Em breve, as escolas municipais de Americana também serão equipadas. Segundo anúncio da prefeitura, em 20 de março, 933 câmeras serão distribuídas em 72 prédios, entre unidades de ensino e Secretaria de Educação.
Prefeito de Americana, Chico Sardelli (PV) disse que a proposta é melhorar a segurança. “Queremos que nunca ocorra, mas se ocorrer, estaremos preparados para situações críticas.”
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Doutora em Educação e pesquisadora do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral) Unesp-Unicamp, Flávia Vivaldi afirma que câmeras na área externa das escolas são muito bem-vinda para sinalizar algum tipo de invasão ou violência. Mas, não, na parte interna.
“A presença desses equipamentos revela um modelo de escola meio equivocado porque quando se pretende uma educação para formação de sujeitos autônomos, que tenham uma perspectiva social do diálogo, um ambiente coercitivo, vigiado e sem a preocupação de uma convivência que seja saudável e ética, de fato não vão ao encontro desse tipo de formação cidadã.”
Para a professora da Pós-Graduação e Educação do Currículo da PUC-SP, Neide de Aquino Noffs, o que previne ataques de qualquer natureza e brigas é uma proposta educacional clara de compartilhamento e colaboração. “Hoje, temos câmeras nas ruas. O ladrão rouba um celular, olha para a câmera e dá risada. Não é mais elemento inibidor. Serve para documentar a realidade, neste sentido, é importante, mas não para prevenir.”
Neide afirma que as escolas não estão mais trabalhando com valores solidários, com diálogo, mas só a nível de normas. “Uma coisa é preparar o estudante para compreensão de uma atitude de colaboração. Outra é ter uma série de normas e punições. Chega uma hora que o aluno fala, ‘tanto faz como tanto fez’.”
Professor da Faculdade de Educação da PUC-Campinas, Samuel Mendonça acredita que as câmeras podem contribuir com o monitoramento do ambiente, evitando situações como ataques e outras violências. No entanto, destaca, que existem limites para o uso.
“A eventual possibilidade de controle de alunos e professores pode mudar a dinâmica das aulas e reduzir a relação de confiança entre as partes. Isso pode atrapalhar, inclusive, a possibilidade de comunicação de situações de violência doméstica”.