Americana
A cada três mortes no trânsito, uma foi por atropelamento
Considerado significativo, número é referente a óbitos ocorridos desde 2015 na cidade
Por Ana Carolina Leal
16 de maio de 2021, às 08h23 • Última atualização em 17 de maio de 2021, às 10h04
Link da matéria: https://dev.liberal.com.br/cidades/americana/em-americana-a-cada-tres-mortes-no-transito-uma-foi-por-atropelamento-1516856/
Uma em cada três vítimas de acidentes no trânsito morreu atropelada em Americana. Segundo levantamento do LIBERAL em dados do Infosiga, sistema do governo estadual, desde o início da série histórica de estatísticas, em 2015, foram contabilizadas 160 mortes no trânsito, sendo 44 delas por atropelamento.
Ex-secretário de Trânsito de Americana, João Batista Biagioni, diz que o número de mortes por atropelamento é significativo se levadas em conta as características do município. “A cidade é sinalizada, iluminada, pavimentada e existe semaforização. Tem tudo para evitar esse tipo de acidente”, argumenta.
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De acordo com ele, 90% ou mais dos acidentes acontecem por desrespeito a sinalização e imprudência. “Desse total, de 20% a 25% são atropelamentos e na grande maioria acontece entre 19 horas e 5 horas por falta de luminosidade”, comenta.
Segundo os dados do Infosiga, dos 44 atropelamentos fatais em Americana desde 2015, ao menos 23 ocorreram entre a noite e a madrugada. Dezoito ocorreram entre a manhã e a tarde e outros três não tinham informação sobre horário.
No município, 20 atropelamentos ocorreram nas rodovias Luiz de Queiroz (SP-304) e Anhanguera (SP-330). Avenidas como Antonio Pinto Duarte e Europa também registraram mortes no período.
Um dos acidentes de maior comoção na cidade aconteceu na manhã do dia 25 de outubro de 2017. Um casal morreu e uma mulher ficou ferida após serem atropelados por uma van escolar por volta das 8 horas na Rua Padre Oswaldo Vieira de Andrade, no bairro Jardim Terramérica. Os três faziam caminhada quando foram atingidos.

Maria Aparecida Martinelli Mendes, de 61 anos, morreu no local. O marido dela, Claudecir Valdonitto Mendes, de 65, chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. A terceira vítima, Marta Maria Teixeira Crepalde, de 52 anos, teve um pequeno sangramento no crânio, mas sobreviveu.
As vítimas foram atropeladas na rua. De acordo com o Corpo de Bombeiros, elas teriam descido da calçada para desviar de uma palmeira e acabaram sendo atingidas pelo motorista de 75 anos.
Em entrevista ao LIBERAL, na época, ele disse que seguia sentido Avenida de Cillo quando foi surpreendido pelas vítimas próximo do cruzamento com a Rua Luiz Plácido Massochetti. “As vítimas saíram de repente para a rua e não consegui evitar o acidente”, declarou.
Casada com um dos filhos do casal, Carolina Rufino Mendes, de 36 anos, lembra de ter falado com os sogros minutos antes do acidente.
“Eles caminhavam todo dia no mesmo horário. Liguei para eles e pouco tempo depois recebi uma ligação falando do acidente. É muito triste, ela [sogra] era meu braço direito em tudo, amor, carinho”, disse em entrevista ao LIBERAL na última quinta-feira.
As mortes por atropelamento sempre superam as demais no trânsito urbano, afirmou o professor da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, Diogenes Cortijo Costa.
“Infelizmente o pedestre é a parte mais frágil no sistema de trânsito. Desatenção de ambos, motorista e pedestre, velocidade elevada, estresse, falta de orientação e fiscalização, são as principais causas”, comenta.
Na avaliação do engenheiro, para evitar esse tipo de acidente são necessárias uma melhor formação do condutor, campanhas educativas e fiscalização de trânsito por agentes nos locais de maior conflito. “A presença do agente interfere no comportamento do motorista”, disse.
Para o ex-secretário de Trânsito de Americana, o ideal é aumentar a segurança e investir na engenharia. “Fiscalização com guardas e policiais militares não permitindo, por exemplo, estacionar no recuo. Se isso acontece, o pedestre deixa de andar na calçada e acaba indo para rua. E investir na engenharia, com o tapa-buracos, por exemplo. Mas não só nas ruas, também nas calçadas, não deixando mato alto nem buracos para evitar que o pedestre saia da calçada e vá para a rua”.
Já nas estradas, Biagioni disse que o principal é a educação e conscientização. “Muitos desses atropelamentos acontecem próximos de passarelas. Na maioria dos casos ocorridos nas estradas, o pedestre é culpado”.
Passagem fatal Perfil das mortes
Concessionárias investem em passarelas e viadutos
A CCR Autoban, que administra as Rodovias Anhanguera (SP-330) e Bandeirantes (SP-348) na região, disse que de 2015 até abril deste ano, foram registrados no trecho de Americana da SP-330 sete mortes decorrentes de atropelamento, o que equivale a pouco mais de um óbito por ano, em média.
“Destas sete ocorrências, a maioria aconteceu próximo a passarelas ou viadutos com calçadas, ou seja, dispositivos de travessia segura”, afirmou. A concessionária ressaltou que o trecho de Americana da Rodovia Anhanguera possui aproximadamente 11 quilômetros de extensão e oito dispositivos de travessia segura instalados, entre passarelas e viadutos com calçadas – o equivalente a um dispositivo a cada 1,3 quilômetro do trecho.
O DER (Departamento de Estradas e Rodagem) informou que no trecho urbano da Rodovia Luiz de Queiroz (SP-304), entre Americana e Santa Bárbara d’Oeste, tem uma passarela para o tráfego de pedestres para evitar atropelamentos. “Além disso o departamento tem colocado barreiras, geralmente de concreto, no canteiro central da rodovia, embaixo das passarelas, para impedir a travessia dos pedestres”, traz nota da assessoria.
A Rodovias do Tietê, que administra a SP-101, por sua vez, disse que tem investido em ações do projeto Abrace a Vida que consistem na conscientização de pedestres e motoristas. “Além disso, estamos com alguns investimentos em tratativa junto à agência reguladora, tais como implantação de radares, tela antiofuscante e mais passarelas”.