Americana
Fogo destrói ao menos cinco galpões de patrimônio histórico de Americana
Área de 6 mil metros quadrados foi consumida pelas chamas ao longo da noite; trabalhos de rescaldo continuam
Por Heitor Carvalho
06 de setembro de 2020, às 13h54 • Última atualização em 07 de setembro de 2020, às 14h25
Link da matéria: https://dev.liberal.com.br/cidades/americana/fogo-destroi-ao-menos-cinco-galpoes-de-patrimonio-historico-de-americana-1301338/
O incêndio que atingiu cinco galpões do complexo de fábricas em Carioba durante o final da tarde de ontem levou parte de um patrimônio histórico e cultural de Americana, que data do final do século XIX. Apesar do dano material, não houve vítimas.
Segundo a Polícia Militar, as chamas começaram por volta de 17h30 e foram controladas cerca de 3h da madrugada deste domingo (7), mas os trabalhos de rescaldo devem continuar até o final da tarde de hoje, visto que ainda é possível encontrar pequenos focos. Informações sobre as possíveis causas do incêndio não foram divulgadas.
O Corpo de Bombeiros de Americana enviou sete viaturas e 15 homens para o trabalho de combate às chamas. A Defesa Civil e o DAE também participaram da ação, assim como os bombeiros de municípios vizinhos, como Santa Bárbara d’Oeste e Piracicaba, e a empresa Suzano, que enviou dois caminhões e seis brigadistas.
De acordo com informações disponibilizadas pela coordernadora da Defesa Civil de Americana, Marli Rodrigues dos Santos Kiriyama, dos cerca de 25 mil metros quadrados de área industrial, 6 mil metros quadrados foram destruídos pelas chamas. Todos os galpões atingidos estavam ocupados por pequenas tecelagens.
“Queimaram fios, tecidos, maquinário, material de escritório, bobinas, etc. Nosso trabalho é dar a segurança de que não há perigo de retorno desse fogo e orientar a população local. O telhado da área atingida entrou em colapso e as paredes que sobraram, principalmente da fachada, estão com a estrutura instável. Todo o complexo foi interditado, a energia elétrica foi cortada e ainda não há previsão de quando o local será liberado”, explicou Kiriyama.
Para o Coronel Clédis Torquete, oficial da Reserva da Polícia Militar, o ocorrido é algo muito triste para a cidade.
“Este patrimônio era para estar bem preservado e protegido, com aceiros competentes, princípios básicos de isolamento de risco, limpeza e protegido com unidades extintoras e hidrantes. Mas pelo jeito ninguém está preocupado. Trata-se de uma edificação antiga e cercada por mato seco, sem possibilidade de intervenção operacional rápida e imediata de combate ao fogo. Mais um grande incêndio e é lamentável que isso ocorra em nosso município”, concluiu.
Patrimônio histórico
A tecelagem foi fundada em 1875 por William Pultney Ralston, um confederado que imigrou do sul dos Estados Unidos durante a guerra civil, associado aos irmãos Antonio e Augusto de Souza Queiroz. Os britânicos Clement e George Willmot compraram a instalação em 1884 e deram o nome de Fábrica de Tecidos Carioba, palavra indígena que se refere a um tipo de camisa de algodão usada pelos índios durante o período colonial.
Em 1901, o local foi leiloado e os irmãos alemães Franz Friedrich e Hermann Theodor Müller criam a Rawlinson Muller & Cia, período em que a tecelagem chegou ao seu auge. O Comendador Müller, como era conhecido Franz Friedrich, também foi o responsável pela construção da Usina Hidrelétrica Salto Grande, inaugurada em 1911. No ápice, na década de 1930, a fábrica de Carioba, a primeira indústria do município e uma das primeiras tecelagens do Brasil, chegou a contar com milhares de funcionários.
Em 1944, o complexo foi adquirido pelo Grupo JJ Abdalla, mas entrou em declínio durante o início dos anos 1970 até fechar em 1976. O casarão onde a família Müller morou e que foi preservado como a Casa de Cultura “Hermann Müller” não foi atingido pelo fogo.
Divina Bertalia, autora de quatro livros, professora, ex-vereadora e historiadora de Americana, disse estar chocada com o incêndio, mas também afirmou que o ocorrido é parte de um cenário mais amplo de descaso com o patrimônio cultural da cidade.
“Quantas pessoas já foram lá na Casa “Hermann Müller” quando estava tudo aberto? Pouquíssimas. A população não prestigia os artistas e locais históricos do município. Como que um gestor público vai direcionar dinheiro do povo para manter espaço cultural se a demanda é baixíssima? Enquanto a população não valorizar monumentos, museus, bibliotecas, prédios antigos, espaços históricos, etc, dificilmente teremos todas essas manutenções assumidas rigorosamente”, lamentou.
