Americana
Só 16% dos partos são normais na rede particular em Americana
Dos 11,2 mil partos realizados entre 2018 e 2022, 9,4 mil foram cesáreas; na rede pública, de 5,3 mil partos feitos no período, 3 mil foram cesáreas
Por Ana Carolina Leal
26 de fevereiro de 2023, às 08h44 • Última atualização em 27 de fevereiro de 2023, às 09h30
Link da matéria: https://dev.liberal.com.br/cidades/americana/so-16-dos-partos-sao-normais-na-rede-particular-em-americana-1915577/
Diferente da média regional, o número de partos na rede particular em Americana mostra uma disparidade ainda maior entre os dois tipos. Dos 11,2 mil partos realizados entre 2018 e 2022, 9,4 mil foram cesáreas, o equivalente a 16%. A diferença é menor na rede pública da cidade. De 5,3 mil partos feitos no período, 3 mil foram cesáreas (57%).
Receba as notícias do LIBERAL no WhatsApp
“No Brasil como um todo, o número de cesarianas na rede de saúde suplementar [convênios e particulares] é mais alto. Isso se deve à opção da paciente, conveniência para o médico e também para o hospital. Um fato interessante é que mesmo a remuneração pelos partos sendo igual [parto normal e cesariana], o número de horas de acompanhamento em um parto vaginal é muito maior que para uma cesariana”, afirma a médica obstetra Rossana Pulcineli Vieira Francisco.
Leia mais sobre o assunto
– A cada 10 partos realizados na região, seis são cesáreas
– Médicas cobram campanhas sobre riscos e benefícios de tipos de partos
Em nota, a Unimed Santa Bárbara d’Oeste e Americana informou que faz parte do grupo de operadoras que apoiam o Programa Parto Adequado, desenvolvido pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Além das consultas de pré-natal, a cooperativa diz que oferece acompanhamento médico semanal a partir de 34 semanas e encontros semanais para discutir temas relacionados à gestação e puerpério, além de outras ações para que a gestante possa ter acesso às informações, entender sobre os benefícios e malefícios de cada tipo de parto, tanto para a mãe, quanto para o bebê.
“A cultura e comportamento de cada pessoa influenciam na decisão de cada um, o que pode justificar os índices elevados de cesáreas”, diz a cooperativa.
Na RPT (Região do Polo Têxtil), o Hospital e Maternidade Municipal Mario Covas, em Hortolândia, informou que atualmente a taxa de cesáreas é em torno de 60%. “O alto índice de partos deste tipo se deve a complexidade dos casos, mas principalmente a uma questão cultural de que o parto vaginal representa sofrimento”.
Por meio da assessoria da prefeitura, a unidade hospitalar afirmou que grande parte das pacientes desconhece os riscos do parto cesariana e os benefícios do parto vaginal. E desconhece, também, que existem práticas que fazem com que esse processo seja mais ameno. “As pacientes são acolhidas e orientadas durante as consultas, onde recebem aconselhamento e esclarecimentos na tentativa de conscientizá-las a respeito de que o parto cesariana deve ser a opção apenas em casos de indicação médica”.
Da cesárea ao parto normal: dois filhos, duas opções

Em Americana, a biomédica e doula Estella Meurer Leandro da Silva Sales, de 28 anos, sempre quis ser mãe. E quando pensava em parto, achava a cesárea a melhor opção. Mas quando engravidou da filha, Maria Lúcia, hoje com 2 anos, começou a estudar sobre o assunto e mudou de ideia no meio da gestação.
“No fim, não porque quis, mas por causa do protocolo hospitalar, acabou sendo cesárea mesmo. Mas engravidei de novo e dessa vez contratei uma equipe particular para me acompanhar no parto e foi normal”, recorda. Isso foi há três meses, quando Francisco nasceu.
Estella conta que depois do nascimento da filha passou a estudar mais a fundo sobre parto, tornando-se inclusive uma doula, profissão a qual se dedica atualmente.
“O que sabia sobre parto era o que foi apresentado na escola, um vídeo horrível de um parto normal, com muito sofrimento, ou seja, ninguém quer passar por isso e com razão. Do outro lado tem a cesárea, uma cirurgia que por não ter a dor nem o sofrimento retratado no parto normal, é mais requisitada pelas mulheres”, diz.
A doula critica como muitas vezes o parto normal é retratado em filmes, novelas, entre outros. “É uma imagem só de dor e sofrimento, mas quando se estuda sobre o assunto é possível perceber e entender o próprio corpo. Colocar os riscos na balança. A cesárea é maravilhosa para salvar vidas quando necessária. Ao contrário, se torna um problema de saúde pública, devido às implicações que pode causar na vida da mãe e do bebê”.