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Região

A cada dez partos realizados na região, seis são cesáreas

Especialistas defendem aumentar conscientização sobre benefícios e riscos de cada procedimento

Por Ana Carolina Leal

26 de fevereiro de 2023, às 08h37 • Última atualização em 27 de fevereiro de 2023, às 09h29

A jornalista Kely durante o parto normal da filha Helena - Foto: Michele Pampanin

Seis em cada dez partos realizados na RPT (Região do Polo Têxtil) são cesáreas. Dos 54,4 mil nascimentos ocorridos entre 2018 e 2022, 36,4 mil foram por meio de cesariana, o que corresponde a 67% dos casos. No mesmo período, foram feitos 18 mil partos normais, um índice de 33%.

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As informações foram compiladas pelo LIBERAL com base nos dados passados pelas secretarias de saúde de Americana, Santa Bárbara d’Oeste, Nova Odessa, Sumaré e Hortolândia.

Embora a cesariana seja uma cirurgia importante para salvar a gestante e o feto em algumas situações, a realização indiscriminada e sem indicação clínica é considerada um problema de saúde pública por aumentar os riscos de complicações para a mulher e o bebê.

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“Há maior risco de problemas após o parto, sendo os principais, no caso da gestante, o sangramento e as infecções”, afirma a médica Rossana Pulcineli Vieira Francisco, professora associada da disciplina de obstetrícia e chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

Em relação ao recém-nascido, a médica alerta que caso se opte pela cesariana, esta só deve ser agendada depois de 39 semanas de idade gestacional. Quando é programada antes há risco de problemas respiratórios para o recém-nascido e de necessidade de internação em unidades de terapia intensiva. “São também estudados impactos a longo prazo para a criança e há estudos que sugerem risco maior de alergias e asma”, comenta.

Para Rossana, o alto índice de cesáreas é resultado de alguns fatores, entre eles, a falta de estrutura de maternidades pequenas em manter número adequado de plantonistas presenciais e diariamente, de equipes multiprofissionais e de acesso à analgesia, para aliviar a dor, durante o trabalho de parto. Ela também destaca o aumento de cesáreas realizadas a pedido da gestante e a pouca educação em saúde para que as mulheres sejam esclarecidas dos riscos e benefícios de cada tipo de parto.

Médica obstetra e secretária da Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), Adriana Gomes Luz acrescenta à lista o impacto da lei de autoria da deputada estadual Janaína Paschoal (PRTB-SP), que garante cesárea por opção da mãe após a 39ª semana de gestação.

“Tivemos uma fase de estabilidade e de 2018 para cá houve um aumento [na realização de cesáreas]. A gente tem várias hipóteses. No Estado de São Paulo, a Lei Janaína contribuiu um pouco para a alta do índice. Tem casos de pacientes, por exemplo, com oito centímetros de dilatação que chegam no hospital pedindo cesárea. Temos que conversar, perguntar se o medo é da dor, que podemos oferecer anestesia. A mulher tem autonomia para escolher, mas será que ela sabe quais são os benefícios?”, diz Adriana, também professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera que a taxa adequada de nascimentos via cesariana seja de 10% a 15%. Conforme a Opas (Organização Panamericana de Saúde), o Brasil é um dos cinco países do mundo nos quais o índice de cesarianas supera o de partos vaginais – estão nessa situação também Egito, Chipre, Turquia e República Dominicana. 

Helena: 21 horas de trabalho de parto

Assim que descobriu a gravidez, a jornalista Kely Gouveia, de 40 anos, moradora de Americana, começou a buscar informações sobre os tipos de gestação, qual seria a melhor opção para ela e para sua filha Helena, hoje com 5 anos.

“Até pelo meu estilo de vida, sempre procuro os caminhos mais naturais. Minha avó teve oito filhos por parto normal e também nasci da mesma maneira. Então, tinha um pouco desse pensamento, que se minha avó e minha mãe tinham ido por esse caminho, também gostaria de ao menos tentá-lo”, afirma.

Kely conta que durante a gestação se preparou bastante participando de grupos, lendo livros e assistindo a documentários. “Fiz aula de yoga, contratei doula, fotógrafa, acho que todo esse processo ajudou muito. O fato de ter estudado foi fundamental para me sentir segura de que estava fazendo uma boa escolha”. Helena nasceu depois de 21 horas de trabalho de parto.

“Não tomei nenhum tipo de analgesia porque queria mesmo entender e sentir como era a dor do parto. Realmente é bem profunda, mas possível de ser enfrentada”.

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