Região
Dois a cada dez acidentes terminam em morte na linha férrea
Moradores falam em imprudência e falta de cancelas como principais motivos
Por Gabriel Pitor
12 de fevereiro de 2023, às 09h05 • Última atualização em 12 de fevereiro de 2023, às 09h07
Link da matéria: https://dev.liberal.com.br/cidades/regiao/dois-a-cada-dez-acidentes-terminam-em-morte-na-linha-ferrea-1908719/
A linha férrea que passa pela RPT (Região do Polo Têxtil) registrou, desde 2012, um total de 100 acidentes, sendo 22 com vítimas que morreram.
Os dados foram fornecidos pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) após solicitação do LIBERAL. No ano passado, a região bateu recorde no número de acidentes com 13, superando 2013 e 2015 que contabilizaram 12.
No levantamento, Sumaré é o município com mais óbitos (9) no período. A cidade tem a maior parte da linha dentro do perímetro urbano, margeando avenidas importantes, como a João Argenton e Júlia Vasconcelos Bufarah, e bairros de grande concentração populacional, como o Jardim Primavera, o Centro e o Assentamento Três Pontes.
O aposentado Valdevino Colodini, de 76 anos, é morador do Jardim Primavera e escapou de uma tragédia em 2018. Ao fazer a conversão da Rua Luís Vaz de Camões para a Avenida João Argenton, um motociclista em velocidade tentou ultrapassá-lo, mas bateu na parte da frente do carro de Valdevino e caiu. Com isso, o idoso não conseguiu sair do lugar e foi atingido pelo trem.
“O problema é que não tem uma cancela para evitar que os carros passem pela linha quando o trem está chegando, aí sempre tem aqueles que olham, acham que dá e tentam atravessar. É aí que acontece o acidente”, disse o aposentado.
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A imprudência dos motoristas e a falta de um dispositivo que bloqueie o trânsito também foram apontados como problemas por José Carlos Rodrigues, 71, que mora na região desde a infância. Por sua vez, Rosa Moreira de Morais, 87, indicou outro transtorno: o mato alto em volta dos trilhos, o que dificulta a visão de crianças e idosos.
O centésimo acidente em linhas férreas na RPT aconteceu no dia 31 de janeiro. Um homem não identificado foi atropelado ao tentar atravessar entre os vagões de um trem, na Vila Real, em Hortolândia. O município não registrava vítimas desde 2016.
O produtor Jediel Severino de Figueiredo, 72, foi quem prestou os primeiros socorros ao homem. Ao LIBERAL, Jediel disse que a inconsequência de pedestres e condutores de veículos quase sempre causam os acidentes em Hortolândia.
Porém, ele e o amigo Alfredo Sacco, 68, cobram um viaduto no cruzamento da Avenida São Francisco de Assis (Vila Real) com a Avenida Santana (Vila São Francisco), para que as pessoas não precisem passar pelos trilhos.
A solicitação foi reforçada na última segunda-feira pelo vereador e presidente da câmara, Edivaldo Sousa Araújo (PSD), que apresentou uma moção de apelo à Rumo, concessionária responsável pela linha férrea na região pedindo a construção do viaduto, cujo início de suas obras era previsto para o início deste ano.

ESCLARECIMENTOS. Sobre o mato alto, a Rumo informou, em nota, que “o cronograma de roçagem é priorizado para atender mais de 70 municípios de forma regular e é executado trimestralmente”. A próxima na região do Jardim Primavera está prevista para a segunda quinzena de fevereiro.
Sobre as cancelas, a empresa esclareceu “que conforme estabelece o artigo 21 do Código de Trânsito Brasileiro, as manutenções nos cruzamentos rodoferroviários e a sinalização para motoristas e pedestres são de competência dos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos estados e municípios” e disse estar à disposição das entidades de trânsito para discutir medidas.
A Rumo também orienta que durante a passagem da composição pelo perímetro urbano é fundamental redobrar os cuidados, prestar atenção nos sinais sonoros e visuais (como placas), e não adotar práticas que colocam em risco a vida, como pegar carona no trem ou tentar atravessar entre os vagões parados ou em movimento.
A justificativa é que nem sempre o maquinista consegue visualizar situações em que pessoas se colocam em perigo, em razão do tamanho das composições – um trem de 120 vagões tem mais de 2 quilômetros de comprimento.