Educação
Estudo da Unicamp aponta aumento no número de ataques em escolas no País
Ataques praticados por estudantes e ex-estudantes em escolas provocaram a morte de 35 pessoas desde 2002
Por Ana Carolina Leal
03 de abril de 2023, às 07h13 • Última atualização em 03 de abril de 2023, às 07h14
Link da matéria: https://dev.liberal.com.br/cidades/regiao/estudo-da-unicamp-aponta-aumento-no-numero-de-ataques-em-escolas-no-pais-1933995/
Ataques praticados por estudantes e ex-estudantes em escolas provocaram a morte de 35 pessoas, entre professores, alunos, profissionais da educação e os próprios autores. O número considera os crimes cometidos desde 2002 em todo o País. De lá para cá, foram 22 ataques, incluindo o ocorrido em um colégio particular de Americana em 2021.
Os dados constam em uma pesquisa do IdEA (Instituto de Estudos Avançados) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), ainda em andamento. De acordo com o estudo, intitulado “Ataques de violência extrema em escolas no Brasil”, a frequência deste tipo de crime cresceu no último ano.

Dos 22 casos registrados, nove ocorreram entre o segundo semestre do ano passado e a última segunda-feira, dia 27. Na data, um estudante de 13 anos, armado com uma faca, feriu docentes e um aluno em uma escola de São Paulo. Uma professora de 71 anos morreu.
Os ataques ocorreram em 23 escolas, sendo 12 estaduais, sete municipais (uma delas Cívico-Militar) e quatro particulares. A pesquisa não considera os ataques que foram impedidos, realizados por adultos e os não planejados, ocorridos no momento de uma briga. Dentre os atentados, um aconteceu em março de 2021 no colégio Dom Bosco, em Americana.
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Um estudante, também de 13 anos, entrou na escola uniformizado, carregando uma espingarda de pressão, uma picareta, uma faca e explosivos caseiros, em garrafas, dentro de uma capa de violão e de uma mochila. Ele foi até a sala da coordenação e jogou um explosivo. Depois, subiu ao segundo andar da escola e fez disparos, atingindo uma funcionária. Não houve mortes.
De acordo com o estudo, a maioria dos autores praticou o ato de violência sozinho – apenas em três casos o ataque foi feito por duplas. O mais jovem tinha 10 anos e o mais velho, que já era ex-aluno, 25. Em mais da metade dos atentados (12), foi utilizada armas de fogo, sendo que metade dos atiradores tinha o revólver em casa, quatro compraram de terceiros e dois, a origem é desconhecida.
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MOTIVAÇÕES
O estudo é fruto de uma pesquisa de mestrado da advogada Cleo Garcia, especialista em Justiça Restaurativa e mestranda da Faculdade de Educação da Unicamp. Ela é orientada pela professora Telma Vinha, coordenadora do Grupo “Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública” do IdEA. Ambas são integrantes do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral) Unesp/Unicamp.
Os trabalhos tiveram início no ano passado com a participação da advogada e da professora nos procedimentos de acolhimento e acompanhamento das vítimas diretas e indiretas, em Aracruz, após os atentados ocorridos em novembro.
“No Gepem, estudamos clima e convivência escolar e observamos um aumento exponencial de ataques. Aliado a isso, os discursos de ódio e violências extremas que temos convivido no País, nos despertou a necessidade de debruçarmos nesse tema”, afirma Cleo.
Os atentados, segundo a advogada, têm diversos motivos como maior acesso à internet, às armas e aos discursos extremistas e de ódio, que levam jovens à radicalização. Tem também aqueles que são motivados por vingança ou raiva de ter sido castigado com uma suspensão, por exemplo, e bullying.
Nestes casos, o estudo indica que são premeditados e tem planejamento, porém a intenção não é movida por notoriedade, trata-se de crime passional. Diferente dos ataques cometidos por adolescentes adeptos da subcultura extremista, ainda que tenham experiências negativas na escola.
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Eles buscam fazer o maior número de vítimas, participam de fóruns on-line que incentivam a violência e misoginia, e muitos nutrem a ideia de tornar-se uma espécie de mártir entre os extremistas, mesmo que não morram.
Para a advogada, a sociedade, em especial os educadores e a família, precisa trabalhar melhor as competências socioemocionais e o acolhimento para evitar que os casos continuem crescendo.