Região
Testes apontam água da torneira contaminada em quatro cidades da RPT
Dados obtidos por ONG revelam presença de substâncias químicas que podem fazer mal à saúde; prefeituras garantem segurança
Por Ana Carolina Leal
08 de março de 2022, às 07h38 • Última atualização em 09 de março de 2022, às 11h16
Link da matéria: https://dev.liberal.com.br/cidades/regiao/testes-apontam-agua-da-torneira-contaminada-em-quatro-cidades-da-rpt-1726787/
Moradores de Americana, Hortolândia, Santa Bárbara d’Oeste e Sumaré receberam, em suas torneiras, água imprópria para o consumo, com substâncias químicas e radioativas que podem oferecer riscos à saúde.
Das cidades da RPT (Região do Polo Têxtil), apenas a água de Nova Odessa estaria dentro do limite de segurança estipulado pelo Ministério da Saúde, conforme divulgado nesta segunda-feira pela ONG Repórter Brasil, com dados do SISAGUA (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano) de 2018 a 2020.
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O consumo diário dessa água contaminada, ou imprópria para o consumo, pode aumentar o risco de câncer, assim como de mutações genéticas, problemas hormonais, nos rins, fígado e no sistema nervoso. Estudos que associam essas substâncias químicas ou radioativas a diferentes doenças são referendados por respeitados órgãos de saúde, como a OMS (Organização Mundial da Saúde), e por agências regulatórias da União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Austrália.
Enquanto Santa Bárbara d’Oeste e Hortolândia, segundo mapa divulgado pela Repórter Brasil, apresentam substâncias que geram riscos à saúde, Americana e Sumaré estariam em pior situação, com elevada presença de produtos que podem ampliar os riscos de doenças crônicas, como o câncer.
Em Americana, a substância encontrada acima do limite preconizado pelo Ministério da Saúde foi o Rádio-228, utilizado como fonte de radiação em radiografias de metais e combinada com outros metais para pesquisa e calibração de instrumentos de radiação. Esse elemento químico é classificado como cancerígeno para o ser humano pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer), órgão da OMS.
Já em Sumaré, foram encontradas duas substâncias com maiores riscos de gerar doenças crônicas: os agrotóxicos (DDT + DDD + DDE) e a substância orgânica benzopireno. O inseticida DDT é classificado como provavelmente cancerígeno pela OMS e tem seu uso proibido no Brasil. DDE e DDD são produtos derivados da degradação desse inseticida. Já o benzopireno, além de cancerígeno, é classificado como mutagênico, podendo causar dano ao DNA, pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Essa substância pode ser encontrada na fumaça de cigarro e na combustão de veículos automotores e da madeira.
Além dessas substâncias de maiores riscos, Sumaré apresentou outras três que também podem gerar riscos à saúde. Em Santa Bárbara d’Oeste foi encontrada uma e em Hortolândia foram encontradas duas. Essas substâncias, chamadas de subprodutos de desinfecção, foram geradas pelo próprio tratamento da água.
O que dizem os municípios
Americana e Sumaré, cidades da região que, segundo levantamento da ONG Repórter Brasil, forneceriam água com maiores riscos à saúde da população, afirmaram estar dentro dos limites adequados estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
Segundo assessoria de imprensa do DAE (Departamento de Água e Esgoto) de Americana, a autarquia ainda busca se inteirar a respeito desse estudo, para verificar os reais apontamentos. O DAE, no entanto, informa realizar testes periódicos, os quais apontam que a água está dentro dos parâmetros legais.
A concessionária BRK, responsável pelos serviços de água e esgoto em Sumaré, afirmou seguir rigorosamente as diretrizes de potabilidade estabelecidas pelo Ministério da Saúde. “A cidade é uma das poucas no Brasil a contar com um PSA (Plano de Segurança da Água), programa que visa assegurar a qualidade da água, desde sua captação até sua distribuição à população”, afirma em nota.
O DAE de Santa Bárbara d’Oeste também informou que a qualidade da água do município alcançou alto nível de satisfação em saneamento básico entre os municípios associados à ARES-PCJ (órgão regulador). No quesito qualidade da água, Santa Bárbara obteve 9,9 pontos, enquanto em aspecto de satisfação, 9,5 pontos.
Procurada pela reportagem do LIBERAL, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), autarquia prestadora dos serviços de captação e tratamento de água e esgoto no município em Hortolândia, não respondeu até o fechamento desta edição.