Covid-19
Internações mais do que dobram e paciente morre à espera de UTI em Sumaré
Cidade passou de 27 para 70 internados em 11 dias; homem de 52 anos conseguiu decisão na Justiça para ser internado, mas não resistiu
Por Leonardo Oliveira
08 de março de 2021, às 21h48 • Última atualização em 09 de março de 2021, às 09h57
Link da matéria: https://dev.liberal.com.br/cidades/sumare/internacoes-mais-do-que-dobram-e-paciente-morre-a-espera-de-uti-em-sumare-1457606/
O sistema público de saúde de Sumaré viu saltar de 27 para 70 o número de internações de pacientes com casos suspeitos ou confirmados do novo coronavírus (Covid-19) nos últimos 11 dias. Neste domingo, o frentista Antonio Carlos Colin, diagnosticado com a doença, morreu, aos 52 anos, à espera de um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Ele estava desde o dia 27 de fevereiro internado na UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) Macarenko e até conseguiu uma liminar na Justiça para que uma vaga em UTI fosse disponibilizada, mas o prazo para que a prefeitura e o Estado conseguissem a transferência vencia no domingo, justamente no dia em que veio a óbito.
O frentista é mais um dentre vários pacientes que já perderam a vida na cidade enquanto aguardavam por uma transferência por meio da Cross (Central de Regulação de Ofertas e Serviços). O LIBERAL noticiou no início de fevereiro que quatro pessoas com suspeita para a Covid-19 faleceram em situação parecida em janeiro.
Os números divulgados diariamente pelo executivo mostram uma escalada nas internações. Em 25 de fevereiro, eram 27 pessoas em leitos do município. Na quinta-feira passada, 43 pacientes estavam internados. Nos últimos quatro dias, o aumento de internações foi de 62%, chegando a 70 nesta segunda-feira, o boletim mais recente.
Em entrevista ao LIBERAL, a maquiadora Jéssica Colin, filha de Antonio, diz entender que os médicos fizeram o possível para manter seu pai vivo com os recursos que tinham, mas cita ter visto uma situação de sobrecarga na UPA Macarenko.
“O que eu via e o que alguns enfermeiros falavam era que eles estão muito sobrecarregados. Eu vejo que tá sendo um lugar que as pessoas estão com medo de ir e não sair mais com vida, porque, cada dia que a gente ia [até a UPA], tinha duas pessoas que tinham falecido”, afirmou.
Questionada, a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde afirmou que Antonio tinha um quadro clínico grave e que não respondeu aos cuidados “na origem”. Disse ainda que todo pedido de transferência é priorizado conforme o grau de urgência, de acordo com a disponibilidade para atender cada caso.
O LIBERAL teve acesso ao documento do Estado que negou a vaga em UTI para Antonio. Nele, foi citado que o Hospital Estadual de Sumaré não tinha leitos intensivos ou de isolamento respiratório disponíveis e que a sala de emergência da unidade estava com superlotação e sem condições de receber pacientes críticos.
Prefeitura ignora questionamentos sobre situação da cidade
A reportagem tenta, desde a semana passada, esclarecer qual é a real estrutura que Sumaré tem para atender pacientes com casos suspeitos ou confirmados do novo coronavírus. Os questionamentos, porém, têm sido ignorados pela administração.
Na última semana de fevereiro, a prefeitura havia divulgado a implantação de mais 20 leitos na UPA Macarenko, mas não especificou quantos deles eram de enfermaria e quantos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
No dia 1° de março, uma email foi enviado para a assessoria de imprensa pedindo para que fossem detalhados esses dados e para que o secretário municipal de Saúde, Rafael Virginelli, concedesse uma entrevista, mas não houve resposta.
Na tarde desta segunda-feira, a reportagem voltou a questionar, por email, o número total de leitos e a taxa de ocupação, mas a demanda foi ignorada. O LIBERAL também esteve na UPA Macarenko ontem, mas a responsável pela unidade médica se recusou a dar entrevista e indicou que a assessoria de imprensa deveria ser procurada.
Ainda foi perguntado sobre o aumento no número de internações e sobre o caso específico do paciente Antonio Carlos Colin, mas a assessoria também não respondeu.
Em 23 de fevereiro, antes de expandir a estrutura, a Prefeitura de Sumaré havia informado a existência de 30 leitos na UPA Macarenko, sendo dez deles de UTI, mas a estrutura atualizada não foi respondida, mesmo com diversos questionamentos do LIBERAL.