ARTES
Morador de Santa Bárbara, pintor brasileiro de 90 anos busca reconhecimento
Autor de murais espalhados pelo mundo e quadros guardados em Americana, Belluno convida para exposições
Por Isabella Holouka
30 de julho de 2023, às 08h29
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Solar do Belluno. Este é o nome escolhido pelo pintor brasileiro Ararê Belluno, de 90 anos, para o espaço onde pretende expor seus quadros e imagens de murais realizados em diversos países ao longo das seis décadas já dedicadas à arte. Morador de Santa Bárbara, ele busca reconhecimento pelo seu trabalho e convida a população para visitar um imóvel, em Americana, onde monta exposições temporárias sob demanda.

Natural de Juiz de Fora (MG), movido pela vontade de conhecer o mundo, foi parar em Nova Iorque (EUA), aos 30 anos, e trabalhava na construção civil quando começou a pintar. “A vida era de muito trabalho, sem vida social. Pagavam bem, mas a vida era dura. Eu pensei que precisava fazer alguma coisa, então comprei um acrílico e comecei a pintar. Depois passei para a tinta a óleo e não parei mais”, conta.
Os Estados Unidos não é o único território já explorado por ele, que conta ter murais assinados em outros países. Em 1997, pintou um mural sobre danças portuguesas no Algarve, região do Sul de Portugal. No mesmo ano, no Canadá, pintou um mural em homenagem ao trombonista e saxofonista brasileiro Raul de Souza. No México, em 2004, deixou o mural “Encontro de tuiuiús com Louise Tracy”, inspirado na história da educadora americana, especialista em crianças com perda auditiva.
Belluno acredita que a pintura deve ter inspiração social, até porque pintar é comunicar, transmitir uma mensagem. Questionado sobre a preferência entre murais e quadros, diz que o seu forte é pintar, seja o que for.
De volta ao Brasil, em 1983, teve passagens pelos estados de Santa Catarina, Paraná e Goiás, mas acabou escolhendo o interior paulista para estabelecer-se. Ararê Belluno não revela seu nome social, somente o artístico, que já foi Lucilio Belluno. E conta ter perdido de vista a quantidade de telas e desenhos assinados por ele.
Autodidata, está em constante busca por conhecimento técnico, apesar da longa experiência. “Quem quer pintar precisa ler muito sobre os grandes pintores do séculos XV, XVI e XVII, ler e prestar atenção nas entrelinhas”, afirma, citando como referências os renascentistas italianos Raffaello e Tintoretto, admirados pelo uso das cores, e o holandês Johannes Vermeer, que chama a atenção pela capacidade de colocar expressão em suas pinturas.
“Mas eles tinham uma vantagem sobre mim, a tradição de pintura. Formavam grêmios com 8 ou 10 pintores, com quem trocavam ideias. E usavam pigmentos que vinham da Ásia, da África, da Índia”, destaca Belluno, que trabalha os próprios pigmentos, misturando-os com areia em uma placa de vidro, antes de aplicar nos afrescos.
A dificuldade para vender as obras já foi uma preocupação tão forte que o pintor pensava ser uma praga. Mas hoje encara como uma benção. Com a posse de maioria de seus quadros, prepara exposições temporárias em um imóvel alugado para este fim no Jardim Girassol, em Americana. Ele mantém o sonho de expor todas as obras em um espaço aberto ao público brasileiro e a turistas interessados pela arte do Brasil.
Belluno conta já ter recebido alunos da Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Americana e da Escola Estadual Maria José de Mattos Gobbo, na mesma cidade. Mas está aberto a novos interessados, que podem agendar visitas pelos contatos (19) 99407-5352 ou (19) 99524-2697. E pretende continuar pintando, embora considere a divulgação de sua arte e busca por reconhecimento uma verdadeira luta.
“Quando a pessoa está pintando, o coração bate devagar, o tempo passa, e as cores têm um efeito salutar na cabeça, dá uma satisfação. Mas é uma luta feroz. Por outro lado, quem é que não vive uma luta? Se a gente não tem problema para resolver na vida, fica apático, enjoado de viver, perde os objetivos”, desabafa.