MEIO AMBIENTE
Reciclagem vai muito além de separar o lixo
Famílias inteiras geram e vivem da renda conquistada com aquilo que é descartado
Por Ana Carolina Leal
05 de junho de 2022, às 09h59 • Última atualização em 05 de junho de 2022, às 10h00
Link da matéria: https://dev.liberal.com.br/especiais/reciclagem-vai-muito-alem-de-separar-o-lixo-1776500/
“Tem coisas que quando muito desgastadas não voltam e o meio ambiente é uma delas. Então, quando penso em reciclagem, não penso só no meu sustento, mas também em como aquilo que uso para sobreviver impacta de forma positiva no meio ambiente.” A frase é da coletora Nayane Estevam, de 24 anos, sendo quase três deles dedicados à reciclagem.
Assim como Nayane, muitas pessoas e até famílias inteiras geram e vivem da renda com aquilo que é descartado pela população. “As pessoas, em sua grande maioria, têm ciência do papel da reciclagem, mas nem sempre colocam em prática”, diz Nayane, que integra a Cooperativa Verdes Mares, em Sumaré.
Não é à toa que o Brasil, apesar de contar com uma Política Nacional de Resíduos Sólidos, recicla apenas 5,3% dos materiais coletados, segundo dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento). As informações mais recentes são do Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos de 2020.

Nayane tem como função separar os resíduos. “Encontro de tudo, reciclagem com resto de comida, higiene pessoal, entre outras tantas coisas. Acho que ainda falta um pouco de conhecimento, conscientização e principalmente de empatia por parte da população”, declara.
Segundo Heverson do Amaral, de 42 anos, que está à frente da Cooperativa Verdes Mares, não existe uma renda fixa, mas a média salarial varia de R$ 800 a R$ 1,2 mil. A cooperativa existe, informalmente, desde 2004, mas foi registrada em 2015.
“A reciclagem é uma grande aliada e protetora do meio ambiente. Por meio dela podemos de forma direta contribuir para sua preservação, além de proporcionar rentabilidade. É também um ato de necessidade e de amor”, afirma Amaral.
Em Santa Bárbara d’Oeste, a Cooperativa Juntos Somos Fortes é referência quando o assunto é reciclar. Fundada por Antonio Carlos Vianna de Barros, a cooperativa nasceu dentro da Favela Zumbi dos Palmares no processo de desfavelamento em 2016. Hoje, funciona em um espaço cedido pela prefeitura, no Distrito Industrial 2. Lá, também está instalada a Cooperativa Recicoplast. Os trabalhos realizados por elas, somados aos da coleta seletiva, podem alcançar 160 toneladas de material reciclado na cidade por mês, de acordo com a prefeitura.
Atualmente, a Cooperativa Juntos Somos Fortes tem 25 famílias que retiram o sustento do resíduo sólido coletado. A renda mensal gira em torno de R$ 2 mil, além da cesta básica.
“As cooperativas, assim como os catadores de recicláveis, prestam relevante serviço para a sociedade e para o meio ambiente. Evitam o esgotamento dos aterros sanitários, a poluição dos rios e seus afluentes, das áreas de APP (Área de Preservação Permanente), das vias públicas e promovem o descarte correto destes materiais”, enfatiza Barros.
Atualmente, apenas 3% de todo material reciclável vai para as cooperativas e associações que trabalham com esse sistema. “Ao mandarmos 60 toneladas/dia para os aterros sanitários, enterramos uma cooperativa que poderia promover a inclusão de mais 25 famílias. E se houvesse sensibilidade do gestor público, em tempos onde existe milhões de desempregados, poderiam ser criadas verdadeiras frentes de trabalho”, conclui o fundador da Juntos Somos Fortes.