Anuário Sabores
Conheça a história da profissional de Americana que transitou da engenharia florestal à confeitaria francesa
A trajetória da confeiteira Ivanka Rosada, de 35 anos, é recheada de momentos inusitados e interessantes
Por Isabella Holouka
26 de junho de 2023, às 10h22 • Última atualização em 26 de junho de 2023, às 11h32
Link da matéria: https://dev.liberal.com.br/mais/gastronomia/conheca-a-historia-da-profissional-de-americana-que-transitou-da-engenharia-florestal-a-confeitaria-francesa-1963984/
Para a americanense Ivanka Rosada, de 35 anos, a confeitaria representa desafios e motivações diárias. Ela vai para a cama pensando nos doces que pode criar e acorda a cada manhã com a mesma paixão e novas ideias. É um trabalho duro, sim, muito cansativo fisicamente e mentalmente, mas a comida gera vida, conforto, lembrança. É o que mais brilha seus olhos.
A trajetória da confeiteira é recheada de momentos inusitados e interessantes. Ivanka tem doutorado na área de engenharia florestal e diploma de confeitaria pela “Les Compagnons du Devoir”, a escola técnica mais antiga da França e uma das mais renomadas. Vive com o marido em Antananarivo, capital de Madagascar, no sul do continente africano, trabalhando exclusivamente com a confeitaria, desenvolvendo um atelier próprio e um curso on-line de confeitaria francesa.

Mas para entender a paixão que motivou uma reviravolta na vida de Ivanka é preciso voltar no tempo. Sua atração pela cozinha foi natural. Sempre apaixonada por doces e autodidata, começou pelos brigadeiros ainda na adolescência, passando às trufas, bolos e rocamboles, que fazia para familiares e amigos. Acredita que essa forte ligação com os doces também esteja “no sangue”.
“Meus avós maternos tiveram padarias em Americana, a padaria Aurora [1961-1981], na Rua Carioba, e a padaria Tamoio [1970-1980]. O meu avô, Luiz Rosada, tinha uma formação de padeiro e a minha avó, Nathalia Sandin Rosada, era uma excelente cozinheira. Eu não presenciei essa época porque eles venderam a padaria quando a minha mãe ainda era jovem”, conta.
São muitas as memórias de sua avó cozinhando, apesar de, infelizmente, ela ter falecido quando Ivanka tinha apenas 12 anos. Um dos primeiros contatos da confeiteira com a sensação de ter farinha entre os dedos foi através da matriarca.
“Eu era bem pequena, nem alcançava a pia da cozinha, e tinha muita aflição de farinha. Foi quando ela pegou minha mão, esfregou farinha e me mostrou que estava tudo bem ter a farinha nas mãos. A partir desse dia eu nunca mais tive aflição de farinha, muito pelo contrário, hoje eu amo fazer massas”.
“Foi algo que se intensificou mais ainda depois da minha formação na França, onde eu fazia croissant, massa folhada, brioche e era um dos momentos mais felizes durante o trabalho”, lembra a confeiteira.
TRAJETÓRIA. Ivanka viveu em Americana até os 19 anos, em 2007, quando ingressou no curso de engenharia florestal na Ufscar (Universidade Federal de São Carlos). Cinco anos depois, mudou-se para Piracicaba, onde realizou mestrado e doutorado na Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”).
“Durante o mestrado, conheci o meu marido, que é francês e me incentivou a fazer doutorado com um grupo de pesquisa francês. Tive a oportunidade de desenvolver uma parte da pesquisa na França e durante o tempo que eu fiquei lá, seis meses, conheci padarias e confeitarias francesas. Foi paixão à primeira vista!”, narra ela, que retornou ao Brasil após a experiência.
A ideia de morar e estudar confeitaria na França surgiu pouco depois, com o incentivo da sogra de Ivanka, também francesa. Foi quando ela se interessou pelo CAP (Certificado de Competência Profissional), que reúne formação técnica e trabalho como aprendiz. “Eu acredito que, quando a gente deseja muito alguma coisa, e vai atrás, a gente acaba conseguindo”, comenta sobre o que aconteceu em seguida.
O companheiro de Ivanka conseguiu uma oportunidade de trabalho na França em 2020, e eles chegaram a se casar na Europa, mas ela precisou voltar ao Brasil por conta do visto. Neste meio tempo, o marido passou em um concurso em Madagascar. Porém, quando estavam de malas prontas para a mudança da Europa para a África, com o aumento da gravidade da pandemia da Covid-19, as fronteiras foram fechadas. Portanto, “presos” na França, Ivanka pôde investir na formação presencial de confeitaria – um verdadeiro sonho.
“Fui contratada para trabalhar como aprendiz em uma padaria e confeitaria típica francesa e consegui me inscrever na escola técnica mais antiga e uma das mais renomadas da França. A formação durou um ano, foi maravilhoso, pude aprender todas as técnicas, receitas e a teoria por trás da confeitaria”, conta ela, que em junho de 2022 foi aprovada em um exame nacional, após provas teóricas, práticas e orais, e conquistou seu diploma de confeitaria francesa.
Confeiteira mais doce
“Mudar de carreira aos 33 anos não é fácil”, desabafa Ivanka, que apesar de apaixonada pela confeitaria sentia todas as inseguranças que uma transição de carreira é capaz de gerar. Fã do reality show “Que Seja Doce”, do GNT, ela resolveu se desafiar e acabou sendo vencedora na edição em que participou, juntamente com a irmã Bianca, conquistando elogios dos jurados.
“Ao longo do processo foi uma mistura de sentimentos. É muita pressão fazer um doce bom e bonito em pouco tempo. No final, foi muito gratificante. Uma experiência única na minha vida e, mais que isso, uma afirmação de que eu estou no caminho certo”.