Revista L
O novo homem dá as caras
Crescimento do setor de produtos de beleza masculina, acima da média do mercado brasileiro, reforça que o homem moderno está cada vez mais preocupado
Por Danilo Reenlsober
28 de junho de 2019, às 11h52
Link da matéria: https://dev.liberal.com.br/revista-l/o-novo-homem-da-as-caras-1034372/
O empresário americanense Claudenir Neves do Nascimento não tem problemas em se reconhecer como um homem vaidoso. “Tudo que existe de benefício vinculado ao aspecto visual e à saúde, eu tento implementar na minha vida, no meu cotidiano”.
Aos 37 anos, diz que busca sempre uma nova maneira de manter a aparência mais jovem. Preocupado com a beleza e com a forma física, criou uma rotina que é sagrada: periodicamente, visita o barbeiro para que o cabelo e a barba estejam sempre aparadas. O mesmo vale para as idas à manicure e pedicure. Ostenta uma verdadeira coleção de produtos voltados à beleza masculina, como cremes e perfumes.
Aulas de crossfit e jiu-jitsu ajudam a completar o “combo”. “Para mim, tudo isso é algo muito prazeroso, me faz bem e já virou rotina. Me sinto mal quando não faço isso”, ressalta o empresário, que começou a prestar mais atenção nessas questões quando conheceu a atual esposa, há cerca de cinco anos.
Se você acha todo esse cuidado exagerado, talvez seja hora de rever os seus conceitos: o homem moderno está cada vez mais preocupado com o visual – e isso reflete diretamente no mercado.
O setor de produtos de beleza masculinos cresceu 69,7% entre 2012 e 2017, atingindo uma movimentação de US$ 6,2 bilhões segundo o Euromonitor, provedor de pesquisa de mercado internacional.
De acordo com a pesquisa, o Brasil é atualmente o segundo maior consumidor de produtos de beleza masculinos, com 13% das vendas mundiais. Os dados apontam que estamos atrás apenas dos Estados Unidos, que detêm 18% de participação, mas na frente de países como a Alemanha, Reino Unido e a China.
Mesmo assim, Claudenir diz que ainda é comum ouvir piadinhas depreciativas sobre o seu cuidado com o corpo. Mas ele não se abala. “Normalmente são homens que fazem esse tipo de piada, mulheres sempre apoiam e elogiam. Mas o que importa é a minha esposa. E ela gosta disso”. Afinal, cuidar da aparência contribui para a autoestima. “Quem não gosta de sair e ouvir como a gente está bem-vestido ou cheiroso?”, questiona.
Só depois dos 30
O hairstylist americanense Matheus Gouveia, 39, é conhecido em todo o País justamente pelo seu cuidado com o corpo. Tanto que essa “devoção” o levou a ser eleito o Mister Brasil 2015, mesmo competindo com homens mais jovens. No entanto, segundo lembra, toda essa preocupação com a estética e com a vaidade começou um tanto quanto tardiamente. “Só comecei a me cuidar depois da crise dos 30”, brinca.
Matheus já tinha atuado como modelo na juventude, mas, mesmo assim, nunca foi muito ligado a questões estéticas. “As pessoas diziam que eu tinha ‘genética boa’, que parecia ter menos idade do que tinha de fato”. Quando chegou aos 30 anos, no entanto, mudou de perspectiva. “Comecei a fazer procedimentos e passei a utilizar produtos específicos, como sabonetes para o rosto, cremes e protetor solar para o corpo, coisas que eu não usava antes”, diz.
A malhação também virou rotina, com treinos de musculação e corrida toda semana. Todo esse cuidado, de acordo com o hairstylist, traz prazer no dia a dia. “As minhas clientes admiram e até dizem que gostariam que seus maridos fizessem o mesmo, que se cuidassem mais”, aponta. “Creio que não é mais só a mulher que tem que ser vaidosa. Os homens também estão se cuidando mais”.
Mudança de perspectiva
O tosador barbarense Gabriel Moura, 20, também se intitula um homem vaidoso. “Creio que costumo me cuidar muito mais do que normalmente outros homens se cuidam”, brinca. Cremes para manter a pele mais hidratada, máscaras que removem cravos, óleos e xampus específicos para a barba, entre vários outros produtos, são itens que não podem faltar em sua rotina de cuidados.
Ele também relata já ter ouvido piadinhas sobre esse seu modo de vida. “Várias vezes, sempre por homens mais velhos. Mas levei na esportiva”, comenta. Um dos casos, ele relembra, aconteceu dentro de casa. “Meu pai e meu tio acham um absurdo homem raspar a perna ou a axila, por exemplo”. Mesmo assim, de acordo com o barbarense, hoje esse tipo de preconceito já é bem menor.
E ele está certo. Uma pesquisa da consultoria Croma Solutions, divulgada em dezembro do ano passado, mostrou que, para 63% dos homens ouvidos, cuidar da beleza do corpo não é só coisa de mulher. Desses, 53% afirmam que se cuidam e não têm vergonha disso. No estudo, produtos como perfumes (65%), xampu e condicionadores (63%), cuidados com a barba (40%), cremes e loções para o corpo (30%) estão em alta demanda no mercado.
Calvície é um ‘pesadelo’
A calvície é uma das principais preocupações do homem vaidoso. Para muitos, a queda de cabelo afeta diretamente a autoestima. “Quando perdemos os cabelos, perdemos um pouco da juventude e isso pode abalar o homem moderno”, aponta o cirurgião plástico Alan Wells, especialista em transplante capilar.
Embora a alopecia androgenética (denominação usada pelos especialistas em calvície), não possua cura, a medicina e a tecnologia já desenvolveram tratamentos e métodos que combatem a queda capilar ou até mesmo trazem os fios de volta. “O transplante capilar tem sido muito procurado para resolver a calvície”, explica. Nesse método, fios saudáveis são retirados da lateral e da nuca e realocados na área calva.
O FUE (Folicular Unit Excision) é um dos procedimentos mais modernos: minimamente invasivo, utiliza um micro-aparelho de 0.8 a 0.9 mm de diâmetro, em que os folículos são implantados, um a um, no couro cabeludo, deixando marcas praticamente imperceptíveis.
Quem não quer partir para o procedimento cirúrgico pode testar alguns medicamentos que já são bem aceitos pela comunidade médica na luta contra a queda de cabelo. O minoxidil e a finasterida, segundo o especialista, são alguns exemplos. “O tratamento, no entanto, só deve ser iniciado após uma consulta médica”, orienta o cirurgião plástico.
Espaços personalizados
Com a mudança na mentalidade dos homens, em assumir a vaidade, não tardou para que espaços voltados exclusivamente para o público masculino começassem a surgir. Hoje, as barbearias já conquistaram os clientes e se espalham pelos quatro cantos do Brasil, e na região de Americana não é diferente. Lugares antes voltados quase que inteiramente para mulheres já oferecem atendimento personalizado para a clientela masculina.
“Os homens estão se cuidando mais e preferem ser atendidos nesses espaços mais exclusivos, criados especialmente para eles”, aponta Vanda Beatriz de Oliveira, proprietária do Bunittas Espaço de Beleza, em Americana.
Há três anos, ela inaugurou um ambiente voltado para esse perfil mais exigente de clientes e viu o mercado se expandir. “Percebemos que seria legal criarmos um local para atender os maridos, amigos e noivos que desejam cuidar da barba e da beleza. Verificamos que o mercado pedia isso”, conta.
Quem também passou por essa adequação foi o salão Illuminato Corpo & Beleza, também de Americana. “Nós já tínhamos um número interessante de clientes homens, mas depois que criamos um espaço reservado só para eles, vimos esse número aumentar”, afirma a proprietária, Danielle Antunes.
Segundo ela, o espaço foi criado após uma pesquisa extensa sobre quais elementos tornavam um ambiente masculino mais atrativo. “É um público exigente, que gosta de comodidade e conforto”, analisa a empresária.
Tratamentos estéticos
Mercado em expansão mesmo em momentos de crise, o que não faltam são tratamentos e procedimentos específicos para o público masculino. De acordo com a dermatologista Michele Haikal, eles já representam cerca de 48% do público que procura por atendimento estético. “Os homens se preocupam muito com o cabelo”, aponta. Segundo Michele, a queda dos fios é a principal queixa, além de problemas de pele, sobrepeso e o desejo de ganhar músculos.
Tratamentos capilares, aplicação de botox e o preenchimento do sulco nasogeniano (bigode chinês), são os procedimentos mais procurados pelos homens. Outra preocupação é com a gordura do abdômen, o que tem aumentado a busca por novos métodos para alcançar a tão desejada “barriga tanquinho”.
Os procedimentos mais requisitados, de acordo com o cirurgião plástico Juliano Souto Ferreira, são a rinoplastia, cirurgia das pálpebras e otoplastia (correção das orelhas de abano). Em relação aos tratamentos corporais, destacam-se a lipoaspiração e a correção das mamas. “Há ainda os procedimentos minimamente invasivos, como os preenchimentos com ácido hialurônico ou com gordura para a harmonização facial, o micro-agulhamento e lipoaspiração de papadas”.