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8 de Agosto de 2019 Atualizado 13:56
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L MODA

Segunda mão com qualidade de primeira

Brechós têm ganhado espaço ao atenderem uma demanda do público por consumo sustentável de roupas, preços atrativos e peças exclusivas

Por Marina Zanaki

07 de outubro de 2020, às 08h10 • Última atualização em 07 de outubro de 2020, às 09h20

Vintage. Segunda mão. Garimpo. Moda sustentável. Consumo consciente. Preço baixo. Peças exclusivas. Esses são alguns conceitos que ajudam a compor o mercado dos brechós, em crescimento no país.

Material divulgado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para a semana do MEI (Microempreendedor Individual) de 2019 avaliou que os brechós vêm ocupando um lugar “diferenciado” na moda.

O motivo é que esses negócios atraem público em busca de bom preço e, de quebra, promovem o consumo consciente ao aumentarem a vida útil das peças.

Antes mesmo de abrir o Brechoníssimo no Centro de Americana, o empresário Murilo Arruda já era um “rato” de brechó. Após se graduar em tecnologia têxtil, ele sonhava em ter a própria marca. O caminho encontrado, que unia uma tendência crescente e sua própria habilidade, foi investir em um brechó.

Murilo passou um ano se programando financeiramente e garimpando – prática de buscar em bazares ou outros brechós as peças para colocar à venda.

“Antigamente as roupas eram feitas para durar. Se estão numa loja 20 anos depois que foram fabricadas, é porque são peças de extrema qualidade” – Foto: Marcelo Rocha – O Liberal

Ele acredita que o movimento atual que tem favorecido os brechós está ligado a uma ressignificação na forma como a moda é consumida.

“Quando eu apenas comprava em brechó, sabia que muitas pessoas tinham preconceito com as roupas de segunda mão. A geração de hoje pensa um pouco diferente quando o assunto é consumo e está mais consciente”, aposta o empresário. “Por que não podemos aumentar o ciclo de vida da roupa sabendo que a indústria da moda é uma das que mais poluem?”, questiona.

Em brechó, é possível encontrar tecidos que não são mais fabricados, marcas extintas e produtos exclusivos. “Se estão numa loja depois de 20 anos que foram fabricadas, é porque são peças de extrema qualidade. Antigamente as roupas eram feitas para durar, mas agora tem prazo de validade. Algumas peças você lava algumas vezes e depois vão para o lixo. São descartáveis”, analisou.

Livia Duarte customiza muitas das peças que vende em seu brechó online – Foto: Marcelo Rocha – O Liberal

Conectada
Estudante de medicina veterinária, Livia Duarte tinha algumas peças de roupa que queria desapegar, levantando algum dinheiro com isso se fosse possível. A barbarense publicou as peças no Instagram e, para sua surpresa, conseguiu vender todas elas. Depois disso, amigas e conhecidas começaram a pedir que ela anunciasse mais peças.

Um ano e meio depois, a estudante é dona de uma conta com mais de dois mil seguidores e já anunciou mais de mil peças. O Brechó Moonlight (@_brechomoonlight) tomou uma proporção que Livia não esperava.

“Eu atendia as pessoas no meu quarto, mas tive que separar outro cômodo da minha casa com armário, arara, tudo bonitinho, para receber as pessoas. Foi rápido e inesperado”, contou.

Os brechós online são numerosos na região. Basta seguir um perfil e vários outros pipocam como sugestão ou te seguindo. É possível passar horas analisando peças postadas e os preços.

Enquanto alguns montam cenários para fotografar e divulgar as peças, outros não escondem que estão começando – melhor no cabide ou no corpo? Aberta ou fechada?

Livia revela que, no começo, não tinha quase nenhuma noção de moda. Com o tempo, leituras e os garimpos para procurar peças, ela aprimorou sua percepção.

“Sempre coloco no Instagram a caixinha de sugestão para as pessoas falarem o que querem no brechó. Isso ajuda bastante no que trazer aqui”, disse a estudante.

Livia avalia que a internet é a peça mais importante no sucesso do seu negócio. “Quem passa na frente de casa nem imagina que tem um brechó. Vai da divulgação, de marcar o brechó nas fotos com as peças. Por boca não acredito que eu teria todo o público que tenho hoje”, analisou.

Personalizado
Que a forma como as pessoas consomem roupas está mudando, isso é fato e já foi percebido tanto pelos pequenos empresários quanto pelas grandes indústrias. Um dos conceitos que tem entrado na composição dessa nova relação do consumidor com a roupa é a possibilidade de ter uma peça exclusiva, e nisso a customização tem ganhado espaço.

Livia percebeu que consegue valorizar roupas que estão paradas por meio da customização. “Às vezes fazia blusinha de um vestido ou pegava uma blusa e fazia uma diferente, e saía. Mesmo hoje, quando saio para procurar roupa, já vejo peças e penso nelas customizadas. Estou fazendo bastante isso, bem mais do que eu esperava”, revelou.

Público
Quem compra em brechó geralmente é atraído pelo preço, bem mais em conta do que em lojas comuns. Contudo, outros fatores acabam fidelizando esses clientes, como a qualidade das peças e a filosofia de consumo consciente.

A artista plástica Nicole Ramos, de 22 anos começou a comprar em brechó por conta dos preços atrativos. “Com o tempo, a gente vai descobrindo que no brechó tem opções de peças de estações passadas e até muito antigas, o que contribui para construir um guarda-roupa com mais personalidade”, revela.

A consciência de que está contribuindo com pequenos empreendedores e ajudando o planeta também faz a diferença.

“Poder comprar roupas e sapatos usados tira um pouco da culpa de consumir em lugares que às vezes se utilizam de trabalho escravo, maltratam os funcionários das lojas, propagam discurso de ódio e vendem coisas com qualidade ruim a preços exorbitantes. Para mim, moda consciente é lembrar que roupas não são descartáveis e que no brechó está tudo limpinho e com energia boa”, disse a artista.

A estudante Mariane Teixeira Cantão, de 19 anos, acredita que o brechó amplia o acesso a produtos de qualidade. “A popularização de brechós acaba facilitando o consumo de peças que em outras lojas seriam absurdamente caras por um preço acessível. Não é brega, não é nojento”, declarou a estudante

A empresária Vitória Pinese De Nadai, proprietária de uma das unidades do Madá Brechó, em Americana, informa que as mulheres de diversas faixas etárias costumam ser o maior público, mas os homens, embora em menor escala, também estão buscando mais os brechós como opção de consumo. “Os clientes buscam por peças que estão na moda”, informa.

O empresário Murilo Arruda informa que os “jovens” são os que mais compram em brechós. “Mas falo do jovem de espírito e não de idade. Pessoas que gostam de coisas diferentes, que têm uma pegada mais fashion e que gostam de peças exclusivas. Tenho clientes de 16 anos que vêm ao brechó com a mãe, e há também pessoas na faixa dos 40, 50 anos. E não tem gênero, tanto homem quanto mulher. É um segmento que abrange muitos públicos”, avalia o empresário.

Achados de brechó

Uma característica de brechó é que a cada ida a um estabelecimento do gênero é uma novidade nova. No início de agosto, o LIBERAL visitou o Madá Brechó para garimpar algumas peças. A proprietária da 4ª unidade da rede, Vitória Pinese De Nadai, contou que o critério de seleção para as peças vendidas no local são a boa qualidade da roupa – sem manchas ou defeitos. Peças que estejam na moda também têm prioridade na escolha. Confira algumas que encontramos por lá durante o nosso garimpo.

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