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Celebridades

Com todo gás

No ar em “Vai na Fé”, Renata Sorrah exalta vigor artístico diante do vídeo

Por CAROLINE BORGES - TV PRESS

11 de junho de 2023, às 09h07


Com mais de cinco décadas de carreira, Renata Sorrah esbanja um prazer e um frescor invejáveis pela profissão de atriz. Aos 76 anos, a ideia de parar de atuar ainda é encarado como um futuro bem distante para a intérprete da amargurada Wilma, de “Vai na Fé”, atual novela das sete. E o maior exemplo para a longevidade na carreira vem de sua própria família. “Meu pai morreu com 101 anos, totalmente lúcido. Trabalhou até os 100, era incrível. Então, na família temos um DNA bom. Minha mãe também viveu bem. Trabalhar é ótimo para viver muito. Me lembro quando eu tinha uns 13 anos, estava sofrendo por amor e ele (meu pai) me disse: ‘A vida é trabalho, trabalho e trabalho’. É nele que você se realiza. Claro que em um trabalho que você goste”, analisa Renata, que é filha de um empresário e uma diplomata.

Longe de pensar na aposentadoria, Renata engata mais um trabalho na televisão. Em “Vai na Fé”, Wilma é a mãe do astro pop Lui Lorenzo, papel de José Loreto. Egoísta, vaidosa e durona, ela tenta ser chique em meio à cafonice ao seu redor. Da carreira de grande atriz de teatro, cinema e televisão ficaram o ressentimento e as lembranças, pois com o passar dos anos os convites para atuar sumiram. Ela cuida da carreira do filho, que considera ligeiramente brega, para dizer o mínimo. Mas é Lui quem garante o sustento da mansão em que vivem.

“No passado, ela foi uma atriz de teatro, foi para a tevê e virou celebridade. Ela fez coisas incríveis no teatro e na tevê, mas virou uma mulher amarga. Ela queria ser uma estrela, mas começaram a achar que ela estava velha para prosseguir”, afirma.

A trama de “Vai na Fé” marca seu retorno às novelas após uma pausa de quase cinco anos. O que motivou essa volta aos folhetins?

Eu gosto de colega, eu gosto de cena e eu gosto mesmo é de atuar (risos). Eu adoro fazer obras abertas. Vamos recebendo a resposta do público ao longo do tempo. Então, durante uns seis meses, é um caminho de troca intensa. A gente dá, recebe, manda de volta… Além disso, temos um elenco de todas as idades. Isso é muito maravilhoso. É uma novela boa em todos os sentidos.

De que forma isso?

O que eu gosto de “Vai na Fé” é de como é uma novela bem escrita, mas não apenas o meu personagem. Cada vez que recebo um capítulo, já quero ler o próximo, saber o que acontece. Isso me encantou demais. Inclusive, não acho a Wilma uma personagem de composição fácil. Estou ainda tateando na construção. Os personagens são muito bons e trazem debates atuais e interessantes, como relações tóxicas, religião, racismo, etarismo…

Na novela, a Wilma é uma atriz consagrada que, com o passar dos anos, começa a receber menos convites para atuar. Esse debate sobre etarismo é, inclusive, uma realidade muito presente na tevê. Você chegou a sentir esse tipo de discriminação diante do vídeo, assim como a personagem?

Sabe que eu cheguei a achar a Wilma parecida comigo no início do processo? Ela ganhou Prêmio Molière, fez Medéia… Mas eu não virei essa mulher. Ela é carreirista, queria estar sempre competindo com as colegas, contava o número de falas. Ela queria ser a superstar, mas então veio o etarismo e ela não conseguiu continuar. Ela queria fazer a Jade, mas Giovanna Antonelli pegou o papel em “O Clone” (risos). Acho importante levantar essa questão do etarismo porque não é fácil envelhecer diante das câmeras.

Por quê?

Acho que a profissão de ator ou atriz é uma das mais generosas. Você pode começar criança, passa pela fase jovem, madura e até virar avó. Pode seguir trabalhando por muitos anos. Diferente de quem trabalha, por exemplo, em um banco. Com 50 anos, a pessoa já está se preparando para aposentar. Uma vez vi uma declaração da Meryl Streep de que ela só era chamada para viver bruxa após os 60 anos. Pode isso? Ela é maravilhosa. Eu não vejo isso e, principalmente, não me sinto assim. Uma coisa é não estar mais jovem, né? O que sinto é que não estou mais jovem, então tenho que aprender a envelhecer. É difícil, mas a gente aprende. Não sei se estou exatamente gostando de ver os anos passando, estou vivendo. Tenho filha, netos, continuo trabalhando. É preciso envelhecer conectada a si, ao mundo. Tem que fazer terapia, prestar a atenção como mulher. Fazer o que gosta.

E você sente que tem tido prazer nos convites que estão surgindo?

Estou muito feliz com todos os caminhos que tenho seguido. Quando eu era mais jovem, por exemplo, fiz “A Gaivota”, de Tchekhov, como Nina, a jovem atriz da peça. Agora, vou fazer com o Marcio Abreu, meu diretor querido, o papel da Arcadina, que Fernanda Montenegro e Tereza Rachel já fizeram. Já tinham me chamado para fazer, mas a primeira vez estranhei. Não era mais a jovem da peça. Só que agora estou com o maior prazer de fazer. Fazer teatro é maravilhoso por tudo isso e sempre me ajuda muito na tevê.

Antes de viver a Wilma, você vinha de personagens mais densas na televisão. Estava com saudades de encarar um projeto mais leve e descontraído?

É sempre bom fazer comédia. Mas não fico pensando: “Ih, agora estou fazendo uma comédia”. Porque eu não sou comediante, né? Mas tenho humor para fazer. Acho uma delícia fazer novela das sete. Fiz algumas e fui muito feliz nesses trabalhos. Nunca fiz novela das seis, mas acho que ainda dá tempo (risos).

A personagem tem uma série de falas e atitudes questionáveis. Você teve alguma preocupação para não cair na vilania durante a construção do papel?

Desde que eu li as primeiras cenas, entendi que a Wilma não era vilã. Ela é carreirista, sem filtro e fala barbaridades, mas não é vilã. Não vejo isso nela. Além disso, tem o outro lado, que é o da ferida das consequências do preconceito por envelhecer que ainda batem fundo nela. A Wilma é grossa, sem filtro e magoada com a vida. Porém, ela não aprendeu nenhuma lição com isso, né? Ela sofreu preconceito com a idade e reproduz esse preconceito com a Sol. Fala que uma mulher de 40 anos não pode querer dançar. E vamos combinar? Com 40 anos ainda estamos muito jovens, 40 é tudo. É o momento prime (risos).

Antes da estreia da novela, você estava em cartaz com a peça “O Espectador”, no Teatro Poeira, do Rio de Janeiro. Como foi para conciliar o início dos trabalhos da trama com o espetáculo?

Tivemos de parar por causa da novela. Estava sendo uma delícia trabalhar ao lado da Marieta (Severo), Andrea Beltrão e Ana Baird. A gente ficou em cartaz até fevereiro, mas ia ficar muito difícil de seguir com a peça e a novela ao mesmo tempo. A ideia era ir em cartaz até junho porque estávamos lotando todos os dias. Mas ficou muito difícil.

“Vai na Fé” – Globo – Segunda a sábado, às 19h30.

Trabalho de base

Para Renata Sorrah, os trabalhos de uma novela começam bem antes da data de estreia. Em “Vai na Fé”, a atriz teve a chance, pela primeira vez, de se envolver longamente com o período de pré-produção da trama. “Nunca tive uma preparação tão intensa e tão longa. A nossa preparadora de elenco foi uma figura central para criar essa conexão entre nós. A gente sempre pedia mais tempo de preparação para direção, era algo bem difícil. Fiquei feliz com essa preparação mais longa”, valoriza.

A atriz, inclusive, utilizou o período para se aproximar dos demais colegas de elenco também fora dos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro. “Todo mundo saía para tomar um chope depois da preparação. Ficamos muito unidos e isso faz toda a diferença no vídeo. Como eu estava no teatro também, nem pude participar tanto das preparações. Mas foi especial. Tem de fazer isso sempre”, aponta.

Mãe e filho

Em “Vai na Fé”, Renata Sorrah vê uma série de camadas na personalidade da expansiva Wilma. Longe dos palcos e das câmeras, a personagem é a grande responsável pela carreira do cantor pop Lui Lorenzo, papel de José Loreto. “O Lui Lorenzo é uma espécie de salvação para a Wilma. Ela se encontra novamente no papel de empresária. Ela vive para o filho, mas também tem uma carreira”, defende.

Ainda assim, a fictícia atriz ainda vive de relembrar os momentos de glória do passado. “Ela adora relembrar os trabalhos antigos. Falar frases de impacto de novelas (risos). Acho que a Wilma tem um caminho longo pela frente, mas ainda não sei muito como será esse futuro dela”, desconversa.

Instantâneas

Renata é tia dos atores Deborah Evelyn e Carlos Evelyn, filhos da sua irmã mais velha Suzana.

A atriz chegou a começar o curso de Psicologia, mas não concluiu.

Ela morou em Los Angeles, nos Estados Unidos, em 1964.

Renata também pode vista na série “Filhas de Eva”, original Globoplay.

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