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Celebridades

Fim de ciclo

Próximo do fim, “Travessia” é o capítulo mais fraco e sem inspiração na trajetória com bons acertos de Glória Perez

Por Geraldo Bessa - TV Press

06 de maio de 2023, às 10h30 • Última atualização em 06 de maio de 2023, às 10h31

O conceito de obra aberta atrelado aos folhetins por muito tempo justificou o fato de que deveria haver um controle na frente de gravações de uma novela, de modo que o autor conseguisse modificar a trama antes de um eventual fracasso. Em um mundo anterior ao streaming e das mudanças significativas no modo que o público consome produções audiovisuais, era uma tática totalmente possível.

Autora de “Travessia”, Glória Perez nem sempre acertou no início de suas tramas, mas muitas vezes teve a chance de alterar rotas e tramas para conquistar o público. Foi assim com “Explode Coração” e “América”, por exemplo, produções que só começaram a dar bons resultados a partir de ajustes no texto e na direção. Glória bem que tentou fazer modificações em “Travessia”, incrementando tramas e apostando em viradas não planejadas. Porém, hoje em dia, dificilmente novelistas têm uma segunda chance de êxito após um início confuso e pouco inspirado. Enquanto tenta acertar, o público já trocou de programa.

Mesmo com o ego ferido diante de tantas críticas, a autora não se deixou abater, brigou com fãs e detratores nas redes sociais e disse que seguiria o curso traçado para o atual trabalho. Entretanto, o que se vê com a novela chegando ao final é uma história que sofreu diversas modificações e ganhou diversas incoerências.

Em suas últimas emoções, os conceitos de “Travessia” sumiram para dar lugar a uma trama essencialmente policialesca. Ari, de Chay Suede, vive entrando e saindo de delegacias, as tramas ligadas à tecnologia viraram casos de polícia e até a carismática Creusa, de Luci Pereira, acabou protagonizando cenas carregadas de ação e mistério ao ser sequestrada por sua outrora amiga e confidente Pilar, interpretada por Cláudia Mauro. Apesar de situações repetidas à exaustão, cenas de ação são o forte do diretor Mauro Mendonça Filho, que exibe bem essa habilidade em um resultado estético que impressiona e valoriza o texto por vezes exagerado.

Próximo de colocar o ponto final em mais uma trama, a despedida de “Travessia” também pode representar o fim de um ciclo para a autora, que não tem projetos previstos na emissora e cujo contrato chega ao fim no início de 2024.

Com a Globo preferindo vínculos por obra e enxugando seu banco de talentos, é provável que Glória siga o mesmo destino de outros medalhões de altos salários que foram dispensados nos últimos anos, como Aguinaldo Silva e Silvio de Abreu. Única das novelistas que ainda insiste em trabalhar sozinha, atitude apreendida com sua mentora, a saudosa Janete Clair, para o bem e para o mal, Glória é fiel às suas convicções. Isso explica a intensidade de seus acertos, como “O Clone” e a premiada “Caminho das Índias”, e também seus tropeços, como o remake de “Pecado Capital” e “Salve Jorge”.

Os tempos, entretanto, são outros. Um passo errado pode custar a continuidade que antes era natural. Depois de décadas sustentando e incentivando a cultura da competição por passes e dos contratos exclusivos regados a muito dinheiro, a Globo agora quer soar sustentável, sem ostentação e muito menos apego, mostrando aos seus talentos que ninguém é insubstituível ou tão importante assim.

“Travessia” – Globo – de segunda a sábado, às 21h.

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