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Celebridades

Nada é o que parece

Há 15 anos, trama ágil de “A Favorita” driblou a mesmice e surpreendeu o público ao brincar com os postos de mocinha e de vilã

Por Geraldo Bessa - TV Press

07 de julho de 2023, às 17h37

Roteirista de cinema e colaborador assíduo das minisséries de Maria Adelaide Amaral, João Emanuel Carneiro mostrou a força de sua escrita e o apelo popular de suas histórias a partir de dois sucessos para o difícil horário das 19h. Em “Da Cor do Pecado”, de 2004, fez barulho ao recolocar Taís Araújo no posto de mocinha e revitalizar a faixa. Dois anos depois, na pretensiosa “Cobras & Lagartos”, criticou a indústria do consumo com direito a um elenco repleto de nomes do primeiro time da Globo. O êxito dos dois projetos foi suficiente para que João Emanuel chegasse ao seleto grupo de autores das nove.

Inventivo e sem receios, há exatos 15 anos, João fez de “A Favorita”, sua estreia no horário, uma grande brincadeira com o público. Apresentou as personagens Flora e Donatella, de Patrícia Pillar e Claudia Raia, respectivamente, em todas as suas complexidades e, só no meio do caminho, revelou quem era a vilã e a heroína da história.

“Tive a ideia para essa novela uns cinco anos antes da exibição. Estava cansado de ver as mocinhas e vilãs sob a mesma ótica folhetinesca. Não fujo do formato de novela, mas acho que é possível subverter algumas coisas e ainda assim conquistar o público”, conta João.

Na trama, Donatella foi adotada ainda criança pela família de Flora e as duas cresceram como irmãs. Por conta do talento musical, na juventude, formaram a dupla Faísca e Espoleta e obtiveram relativo sucesso comercial. A carreira, entretanto, foi interrompida depois que as cantoras conheceram os amigos Marcelo e Dodi, personagens de Flávio Tolezani e Murilo Benício.

Donatella casou-se com Marcelo e Flora com Dodi. Porém, a felicidade de Donatella começa a desmoronar ao ter seu filho recém-nascido misteriosamente raptado e descobrir o caso extraconjugal mantido por Marcelo e Flora, que acaba grávida de Lara, personagem de Mariana Ximenes. No pior momento de discórdia entre as duas, Marcelo é assassinado e a culpa recai sobre Flora, que foi pega em flagrante com a arma do crime e é sentenciada a 18 anos de reclusão. “As duas personagens eram muito ambíguas. Donatella criou a Lara como se fosse filha dela. A volta da Flora ao contexto familiar mexe com os sentimentos de todo mundo”, explica Raia.

Em um primeiro momento, o autor e o diretor Ricardo Waddington valeram-se das características físicas das protagonistas para confundir o telespectador, contrapondo os traços angelicais e o semblante por vezes frágil de Pillar com a postura sempre altiva de Raia. Ousando no formato, em vez de só revelar as reais intenções das personagens ao público no último capítulo, João Emanuel, aos poucos, não apenas trouxe à tona o caráter doentio e perigoso de Flora, como também criou mistérios e ganchos sobre novos personagens, como o sensível Zé Bob, o garanhão Halley, a desconfiada Irene e, especialmente, o enigmático Silveirinha, personagens de Carmo Dalla Vecchia, Cauã Reymond, Glória Menezes e Ary Fontoura.

“Todo mundo trabalhou muito em cima da dualidade dos personagens. Afinal, por muitos capítulos a leitura da novela foi meio secreta. Acho que o maior legado desse texto foi mostrar que é possível reinventar uma trama a partir de desfechos e novas criações. A história era muito sagaz”, elogia Pillar, que se destacou em sua primeira incursão como vilã.

Inicialmente idealizada para se passar na região Centro-Oeste, João Emanuel teve de modificar seu plano por conta dos altos custos que isso acarretaria ao projeto. Na ânsia de equilibrar a cidade grande e o ambiente rural, a trama acabou sendo desenvolvida entre a capital e o interior de São Paulo. O formato dúbio de apresentar a história e o sucesso da saga mutante de “Caminhos do Coração”, da Record, fizeram com que os primeiros meses de “A Favorita” tivessem audiência aquém do esperado.

“Foi tudo uma aposta desde o início. Então, o risco era calculado. Antecipamos um pouco a revelação dos verdadeiros vilões e a novela conquistou o público que merecia”, conta o diretor.

Com a trama deslanchada em confortáveis 45 pontos de média, João passou a destacar núcleos secundários com mais propriedade, como o envolvimento do verdureiro Vanderlei e a dona de casa vítima de violência doméstica Catarina, personagens do estreante Alexandre Nero e Lília Cabral. A novela também abordou o universo da prostituição, histórias sobre sexualidade reprimida, corrupção, racismo e até uma possível relação de incesto.

“Era uma novela densa, ‘noir’, onde o ritmo policial se sobressaía ao romance. No fim, acho que ‘A Favorita’ ajudou a renovar a telenovela em um momento onde tudo estava muito igual”, acredita Waddington.

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